Da Redação
Em visita à Malásia para receber homenagem da Universidade Nacional da Malásia, o presidente Lula fez um discurso em que criticou o neoliberalismo, defendeu justiça social e ressaltou a necessidade de uma ordem mundial multipolar e mais igualitária.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, nesta sexta-feira, 25 de outubro de 2025, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Nacional da Malásia (UKM), em Kuala Lumpur. A cerimônia consolidou um momento de destaque na agenda internacional do líder brasileiro, que usou o reconhecimento acadêmico para reafirmar a centralidade da justiça social e da multipolaridade como pilares da política externa e da reconstrução nacional do Brasil.
Em um discurso emocionado e contundente, Lula afirmou que a educação é o verdadeiro motor do desenvolvimento, e que “não há democracia sem inclusão e sem oportunidades iguais de ascensão”. Ele recordou que, embora não tenha diploma universitário, foi em seu governo que o Brasil mais expandiu o ensino técnico e superior, permitindo que milhões de jovens de origem trabalhadora chegassem à universidade pela primeira vez. “Este título pertence ao povo brasileiro, que acredita na educação como instrumento de dignidade”, declarou.
Lula destacou ainda que o desenvolvimento não pode ser medido apenas pelo crescimento econômico ou pelo acúmulo de riqueza de uma minoria. Para ele, é preciso colocar o ser humano no centro das decisões políticas e econômicas. “Um país não é grande porque tem muitos bilionários. É grande porque seu povo vive com dignidade”, afirmou. O presidente ressaltou a importância de políticas de redistribuição de renda e inclusão social, afirmando que sem justiça econômica não há liberdade real.
Crítica ao neoliberalismo e defesa da multipolaridade
O discurso também serviu como crítica direta ao neoliberalismo e à concentração extrema de riqueza no mundo. Lula citou o dado de que cerca de três mil bilionários acumularam 6,5 trilhões de dólares desde 2015 — o equivalente ao PIB combinado do Brasil e de todos os países da ASEAN. “Esse modelo não é sustentável moralmente, nem economicamente. A desigualdade é o veneno que corrói a democracia e destrói a paz”, afirmou.
O presidente fez uma firme defesa de uma nova ordem internacional multipolar, afirmando que o mundo não pode mais ser regido pelos interesses de uma única potência. Segundo ele, a multipolaridade não é apenas uma questão de equilíbrio de forças, mas uma exigência ética e civilizatória. “Precisamos de um mundo que respeite as diferenças e valorize a cooperação, não a competição predatória. Um mundo onde a soberania de cada nação seja inegociável”, declarou.
Ao citar a ASEAN e os BRICS, Lula destacou que o Brasil pretende atuar como ponte entre o Oriente e o Ocidente, entre o Norte e o Sul, buscando uma diplomacia baseada em solidariedade e integração. O presidente lembrou que países como Brasil e Malásia têm trajetórias semelhantes, marcadas por lutas contra a dependência externa e pela busca de modelos próprios de desenvolvimento.
Educação, soberania e meio ambiente
Lula reforçou que a educação deve ser tratada como base da soberania. “Um país só é soberano quando seu povo tem acesso ao conhecimento, quando não depende dos outros para pensar, criar e inovar”, afirmou. A fala ecoa sua defesa de uma soberania informacional e tecnológica, linha que o governo brasileiro tem procurado consolidar em suas políticas públicas e acordos internacionais.
O presidente também dedicou parte de sua fala à pauta ambiental, chamando a próxima COP30, em Belém, de ‘a COP da verdade’. Ele afirmou que o Brasil está comprometido em liderar uma transição ecológica justa e solidária, e destacou a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre como instrumento concreto de cooperação entre países do Sul Global. “Não se trata apenas de proteger árvores, mas de proteger o futuro da humanidade”, disse.
Um título simbólico e político
Ao encerrar o discurso, Lula dedicou o título “aos 215 milhões de brasileiros”, afirmando que o reconhecimento internacional reflete a trajetória coletiva de um povo que acredita na democracia, na inclusão e na esperança. O gesto simboliza mais do que uma homenagem acadêmica: é um ato político e diplomático, que reafirma o papel do Brasil como protagonista ético e articulador global de uma nova lógica de poder.
Para analistas internacionais, a cerimônia na Malásia reforça o reposicionamento geopolítico do Brasil como ator do Sul Global, capaz de dialogar com diferentes polos de poder e propor soluções alternativas à lógica ocidental dominante. O evento também sinaliza a consolidação da “diplomacia da dignidade”, na qual o país busca exercer influência sem subordinação, projetando-se como potência de paz e de soberania popular.


