Da Redação
Na manhã de 9 de outubro de 2025, o Kremlin emitiu declaração oficial negando que os esforços diplomáticos entre Rússia e Estados Unidos para uma eventual resolução do conflito na Ucrânia estivessem “esgotados”. A negação surge como contraponto a declarações recentes de diplomatas russos que sinalizavam pessimismo quanto à persistência desse impulso diplomático.
Um porta-voz do Kremlin, Yuri Ushakov, afirmou que as críticas de que o momentum do encontro entre Vladimir Putin e Donald Trump, ocorrido em 15 de agosto em Anchorage (Alasca), teria se dissipado são “completamente incorretas”. Ele garantiu que Moscou continua trabalhando com Washington com base nos entendimentos firmados naquela cúpula, apesar dos obstáculos manifestos nas negociações recentes.
Isoladamente, um dia antes, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, havia declarado que a energia diplomática pós-Anchorage já estaria “largamente esgotada”, apontando que países europeus aliados da Ucrânia estariam saboteando o progresso. Ao reagir, Ushakov procurou restabelecer uma narrativa mais moderada, enfatizando que os canais diplomáticos continuam abertos e operantes.
A guerra na Ucrânia já atravessa mais de três anos e meio. Apesar do encontro Putin-Trump não ter gerado avanços decisivos, ele havia sido interpretado por alguns analistas como uma fagulha potencial para um novo ciclo de negociações. Diante da escalada constante no front militar e das sanções que pesam cada vez mais sobre a Rússia, manter viva a via diplomática parece ser, até o momento, uma estratégia de equilíbrio.
Por outro lado, analistas ucranianos e ocidentais observam com ceticismo as declarações russas. O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy, por exemplo, acusa Moscou de usar a diplomacia como artifício retórico para ganhar tempo e impor desgaste à Ucrânia. Ele argumenta que a Rússia “enche o discurso de paz enquanto intensifica ofensivas” em vários setores da linha de contato.
A situação fica ainda mais complexa porque os aliados europeus de Kiev exercem influência significativa sobre a sustentação financeira, logística e militar à Ucrânia. Se Moscou tenta mostrar disposição ao diálogo com os EUA, ainda assim deve lidar com resistências indiretas de países do Ocidente que pressionam para que toda negociação passe por etapas que limitem concessões aos russos.
Ainda assim, a reafirmação do Kremlin — de que não vê o esforço diplomático como encerrado — pode ter diversos objetivos práticos: suavizar a pressão internacional, sinalizar à comunidade diplomática que a Rússia permanece compromissada com canais de interlocução e evitar que o discurso sobre “esgotamento da diplomacia” se transforme em narrativa dominante.
Para os próximos dias, a expectativa recai sobre quais gestos práticos Moscou e Washington farão — trocas de emissários, encontros bilaterais discretos ou novas propostas de cessar-fogo parcial. Também será relevante observar se os EUA irão corresponder com iniciativas palpáveis ou manter um distanciamento cauteloso diante do impacto político interno que apoio ou moderação frente à Rússia podem gerar.
No tabuleiro diplomático, cada movimento verbal é parte de uma estratégia sinuosa: negar derrotas, manter esperança e preparar terreno para eventuais renegociações, sem que o esforço militar seja deixado de lado. Afinal, enquanto uma guerra persiste, a diplomacia — mesmo frágil — oferece uma porta de saída que nenhuma frente de batalha consegue garantir sozinha.