A Palestina expõe a falência dos valores que o Ocidente dizia defender
Em entrevista ao programa Democracia no Ar, transmitido pela Rádio e TV Atitude Popular, o presidente da FEPAL, Ualid Rabah, denunciou que Gaza se tornou o lugar onde o Ocidente expõe a contradição entre discurso e prática. A conversa foi conduzida por Sara Goes e contou com comentários do jornalista e pesquisador Reynaldo Aragon.
Logo no início, Rabah foi direto: “Gaza não é exceção, é espelho. É ali que o Ocidente revela a distância entre o que proclama e o que pratica.”
O comando da guerra
Na visão do dirigente palestino, não há dúvida sobre a cadeia de responsabilidades: “Os Estados Unidos comandam a OTAN, a OTAN comanda o Ocidente e Israel é o mero executor do genocídio.” Para ele, a dependência militar e econômica explica a postura de países como Itália e Alemanha, que além de fornecerem armas a Israel travam sanções comerciais no âmbito europeu.
A flotilha e a denúncia ao mundo
Rabah detalhou a relevância da missão humanitária em curso: “A Flotilha não leva só mantimentos, leva provas. Por isso tentam impedir que ela chegue. Israel e Estados Unidos não querem que o mundo veja o genocídio.” Ele lembrou que em 2010 Israel matou nove ativistas turcos da primeira flotilha e, em outra missão, prendeu militantes, entre eles o brasileiro Thiago Ávila.
O controle da informação e os jornalistas assassinados
O presidente da FEPAL denunciou o que chamou de apagão informacional planejado: “Israel e Estados Unidos negaram até mesmo às grandes agências ocidentais o direito de mandar profissionais a Gaza. Eles matam jornalistas: já são 274 mortos. Se fosse proporcional à Segunda Guerra Mundial, seriam 195 mil profissionais assassinados. É quase 3.000 vezes mais do que os 69 mortos naquela guerra.”
O falso cessar-fogo
Ao analisar a proposta apresentada por Donald Trump e aceita por parte da comunidade internacional, Rabah foi incisivo: “Chamar de cessar-fogo um arranjo que mantém o bloqueio e exclui palestinos do próprio destino é mascarar a ocupação. O acordo exclui os palestinos, mantém Gaza bloqueada, dá a Israel e ao Egito o controle das fronteiras e ainda permite a ajuda militarizada que fuzilou 3.000 pessoas na fila da comida. É a administração da fome como arma de guerra.”
Ele explicou ainda a lógica perversa da troca de prisioneiros: “Hoje há 18.200 palestinos sequestrados, 12.000 deles na Cisjordânia. O acordo fala em libertar apenas 1.950. Ou seja, mais de 16 mil seguirão presos. E no parlamento israelense já tramita a pena de morte para esses prisioneiros. É o genocídio se estendendo às masmorras.”
Comparação histórica do extermínio
Rabah sublinhou a gravidade do massacre em números: “Em Gaza, 10.306 crianças foram assassinadas, o que equivale a 306 por milhão de habitantes. Na Europa da Segunda Guerra foram 2.813 por milhão, na guerra da Rússia e Ucrânia, 2,5 por milhão. Ou seja, Gaza registra 4.122 vezes mais crianças mortas do que a guerra Rússia-Ucrânia. Isso não é guerra, é extermínio.”
O mecanismo da anistia
Sobre o ponto mais sensível do acordo, Rabah foi taxativo: “A chamada anistia ao Hamas é, na verdade, a anistia aos genocidas. Significa perdoar Netanyahu, Biden, Trump, militares israelenses, governos europeus e arquivar os processos na Corte Internacional de Justiça. É um salvo-conduto para que os responsáveis pelo genocídio saiam impunes.”
A dimensão histórica e simbólica
Rabah também resgatou o papel dos cananeus como origem da civilização: “Foi entre os cananeus que nasceram a escrita e o primeiro código legal do mundo. Hoje, seus descendentes são tratados como se não tivessem direito a existir. Isso é a falência do que o Ocidente chamava de civilização.”
A leitura brasileira
Reynaldo Aragon reforçou que o debate transcende Gaza: “O que acontece hoje na Palestina não diz respeito apenas ao povo palestino. É um ataque direto à democracia e à possibilidade de um mundo justo. Por isso, acompanhar a flotilha é também pensar o futuro da humanidade.”
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