Da Redação
Num encontro histórico em Xi’an, mídias de diversos países do Sul Global assinam um pacto de produção conjunta, intercâmbio de conteúdos e aplicação de inteligência artificial — impulsionando uma nova era na comunicação, afirmando suas vozes próprias e rompendo com décadas de subalterna cobertura global.
A união das mídias do Sul Global para cooperação tecnológica e inovação comunicacional representa um marco histórico na luta pela soberania informacional e pela democratização das narrativas globais. A assinatura de um consenso entre representantes de veículos de diversos países do Sul, reunidos na cidade chinesa de Xi’an, simboliza o nascimento de uma nova geopolítica da comunicação — baseada em solidariedade, tecnologia compartilhada e emancipação das vozes antes silenciadas.
Durante décadas, o noticiário internacional foi filtrado por lentes eurocêntricas, subalternizando o olhar das nações em desenvolvimento e reduzindo o Sul a uma nota de rodapé da história. Agora, as mídias do Sul Global se unem para construir sua própria infraestrutura de comunicação, com base na cooperação tecnológica, no intercâmbio de conteúdo e no desenvolvimento conjunto de soluções em inteligência artificial.
Uma revolução silenciosa na comunicação global
O consenso firmado propõe algo mais profundo do que simples troca de informações: trata-se da criação de uma rede de soberania midiática, na qual os países do Sul passam a controlar suas narrativas, seus dados e suas tecnologias de produção. É uma forma de reequilibrar o poder simbólico global — e um passo decisivo para romper a dependência tecnológica e informacional do Norte.
Pela primeira vez, mídias latino-americanas, africanas, asiáticas e árabes decidem construir juntas um ecossistema informacional alternativo, com base em princípios de solidariedade, multipolaridade e justiça cognitiva. O objetivo é claro: não depender mais das plataformas, algoritmos e filtros editoriais das grandes corporações ocidentais.
Essa aliança, que inclui veículos públicos e independentes, reconhece que a verdadeira independência do Sul passa também pelo controle da infraestrutura de informação. A mídia, afinal, é uma das armas mais poderosas da geopolítica contemporânea — e até hoje, ela tem servido mais ao poder imperial do que à verdade dos povos.
Tecnologia, inovação e inteligência artificial soberana
Outro ponto central do acordo é o compromisso com a inovação tecnológica. A criação de uma rede cooperativa permitirá o compartilhamento de ferramentas, algoritmos e plataformas baseadas em inteligência artificial desenvolvidas por e para o Sul Global.
Isso significa que as redações poderão automatizar processos, traduzir conteúdos multilíngues, monitorar desinformação e analisar grandes volumes de dados sem depender das infraestruturas controladas por Big Techs estrangeiras. É um passo gigantesco em direção à soberania tecnológica — e um avanço que tem implicações diretas para a liberdade de expressão e a autonomia cultural.
A proposta de construir uma “Plataforma Sul Global de Comunicação” — um hub de intercâmbio de notícias, reportagens, documentários e investigações — é o início de um novo paradigma comunicacional. Essa integração permitirá que histórias invisibilizadas ganhem circulação global, rompendo o cerco da desinformação e da censura econômica.
Formação, inclusão e emancipação cognitiva
A aliança também prevê a criação de centros de formação e capacitação em jornalismo, tecnologia e gestão da informação. Jovens de países africanos, latino-americanos e asiáticos poderão se especializar em novas mídias, produção de conteúdo digital e ética da comunicação, participando ativamente da construção de uma nova geração de comunicadores globais.
Trata-se de um projeto civilizatório. A iniciativa reconhece que a luta por soberania informacional é, em última instância, uma luta pela dignidade dos povos. Formar profissionais conscientes, tecnicamente capacitados e eticamente comprometidos é o caminho para quebrar séculos de dependência cultural e epistemológica.
Um novo horizonte geopolítico da comunicação
O que se desenha é mais que um pacto midiático — é a consolidação de uma nova frente geopolítica. O Sul Global, que já se articula em blocos como BRICS e CELAC, agora conquista também o campo da informação, que há muito tempo era monopólio das agências ocidentais.
Com essa iniciativa, os países do Sul afirmam que não aceitarão mais ser espectadores da história contada por outros. Passam a ser autores, produtores e distribuidores de suas próprias realidades. O consenso de Xi’an é, portanto, um manifesto contra o colonialismo informacional e uma aposta no futuro da comunicação multipolar.
O movimento também demonstra maturidade política: cooperação não significa subordinação. Ao contrário, significa reconhecer que as lutas são comuns — contra a desinformação, contra a manipulação tecnológica e contra a hegemonia discursiva.
Conclusão
A aliança entre as mídias do Sul Global é um sopro de renovação num mundo saturado de narrativas fabricadas pelo poder. É o retorno da comunicação ao seu papel de instrumento de libertação — não de dominação.
Ao firmar esse consenso, as mídias do Sul Global não apenas anunciam uma nova forma de cooperar: anunciam uma nova forma de existir no cenário internacional. Um mundo em que a informação não serve aos impérios, mas à humanidade.
É o renascimento de um sonho antigo: o da comunicação como direito, a tecnologia como bem comum e o jornalismo como ferramenta de emancipação. E, dessa vez, é o Sul que aponta o caminho.


