Pádua Araújo avalia a luta de classes no país, defende crítica responsável à esquerda e alerta para o perigo de entregar espaço ao bolsonarismo em 2026
A luta de classes, longe de ser um conceito abstrato, está em plena ebulição no Brasil e no mundo. Foi com essa leitura que Pádua Araújo, coordenador geral do Mova-se, participou do programa Democracia no Ar, apresentado por Sara Goes e transmitido pela TV Atitude Popular. Ao longo da entrevista, ele analisou as contradições do governo Lula, as ameaças do Congresso e os desafios do movimento sindical, sem abrir mão da defesa estratégica do campo progressista.
A força das ruas e a reação à PEC da Blindagem
Logo no início, Pádua destacou a surpresa com as manifestações do último domingo contra a chamada PEC da Blindagem. “O Brasil renasceu no domingo passado”, afirmou. Para ele, a mobilização foi decisiva para delimitar fronteiras diante da ofensiva da direita, “há muitos anos não víamos as ruas tão lotadas num domingo para dizer: sou contra toda essa bandalheira que a direita está organizando”. Ele mencionou Fortaleza como exemplo de engajamento popular, onde cerca de 30 mil pessoas lotaram o ato marcado na estátua de Iracema Guardiã.
O sindicalista também apontou que a votação da PEC expôs contradições e derrubou máscaras de parlamentares cearenses que se apresentavam como defensores da moralidade, mas votaram a favor de um projeto que amplia a impunidade de políticos.
Lula, a política e a honestidade de um líder
Ao comentar o discurso do presidente Lula na Assembleia Geral da ONU, Pádua ressaltou a franqueza do líder brasileiro. “Lula é diferenciado pela perspectiva de vida, pela construção enquanto cidadão. Ele não nasceu pronto”, disse, ao lembrar que o ex-metalúrgico decidiu entrar na política ao perceber a ausência de trabalhadores no Congresso. Para o dirigente sindical, a maturidade atual de Lula, que fala “de homem maduro para homem maduro” até mesmo a Donald Trump, expressa a defesa firme da soberania nacional.
Críticas e contradições à esquerda
A entrevista também trouxe uma análise crítica sobre o papel do governo e dos aliados progressistas. Pádua diferenciou eleição de revolução, observando que o governo Lula, por sua composição ampla, precisa dialogar com setores conservadores. Ele criticou, no entanto, medidas do governador Elmano de Freitas, como as demissões de trabalhadores seletistas e o uso de recursos públicos para socorrer empresários bolsonaristas. “Isso é inversão de agenda. O governador não devia estar fazendo isso”, disse.
Apesar das críticas, Pádua reforçou a posição do movimento sindical de não abrir espaço para a direita. “Nós temos lado, e o nosso lado é o dos trabalhadores. Vamos continuar denunciando o que está errado, mas jamais permitiremos que André Fernandes ou Priscila Costa governem o Ceará.”
Movimento sindical e comunicação popular
Outro ponto central da conversa foi a necessidade de sindicatos investirem na comunicação popular. Pádua cobrou maior compromisso das grandes entidades com iniciativas como a Rede Cearense de Comunicação Popular. “Estamos com o recurso do trabalhador nas mãos. Ele precisa ser usado para fortalecer a luta e não para trocar de carro todo ano”, afirmou.
Expectativas para 2026
Ao olhar para as eleições de 2026, Pádua expressou preocupação maior com o plano federal que com o estadual. “Empresário não vai fazer nada pelo trabalhador. Nosso desafio é eleger representantes que sejam expressão da classe trabalhadora”, defendeu. Ele alertou que o bolsonarismo já compreendeu que não precisa conquistar a presidência para ter poder, basta dominar o Congresso. “É preciso lembrar: não votem em quem é a favor da bandidagem”, reforçou.
A entrevista terminou com uma síntese do que considera ser a postura necessária do sindicalismo no período: apoiar governos progressistas sem deixar de fazer críticas e exigências. “Ficar calado nós não vamos. Nós vamos continuar denunciando o que está errado e reconhecendo o que está certo. Essa é a compreensão tranquila da esquerda.”
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