Da Redação
Entrevista do jornalista Glenn Diesen com Richard Wolff expõe os sinais alarmantes do declínio do império econômico norte‑americano e suas implicações para a Europa
Nesta entrevista, concedida ao canal do YouTube (subtítulo “O Colapso do Dólar e o Fim da Europa”), o professor Richard Wolff, renomado economista contemporâneo, analisa o histórico e o momento atual de um sistema monetário global em transformação, destacando a crescente fragilidade do dólar e o possível esmaecimento da influência dos Estados Unidos e da Europa.
Segundo Wolff, o sistema de Bretton Woods, estabelecido no pós‑Segunda Guerra Mundial, legitimou o dólar como moeda mundial, graças à força econômica e militar dos EUA. Contudo, esse domínio se apresenta agora como algo insustentável: a dívida americana ultrapassa 37 trilhões de dólares e, para piorar, a China já vendeu mais de 300 bilhões de dólares em títulos do Tesouro — uma movimentação sem precedentes. Ao mesmo tempo, o dólar enfrenta seu pior desempenho anual desde 1973, numa combinação inédita de queda simultânea na Bolsa, nos títulos e na moeda americana.
Wolff alerta que isso não é apenas um momento isolado, e sim a manifestação de um império em declínio, incapaz de manter o poder e a projeção enfrentados no passado. Ele critica a maneira como figuras políticas, como Trump, tentam desviar a atenção do problema com retórica nacionalista em vez de propor soluções reais.
A entrevista retoma o papel histórico do padrão‑ouro e como sua abolição serviu para prolongar artificialmente o poder do dólar — mas, segundo Wolff, o declínio seguiu inexorável. A deslocalização da produção para a Ásia, motivada por limitações tecnológicas e ideológicas nos EUA, ampliou o desenvolvimento de potências emergentes como China, Índia e Brasil, reduzindo ainda mais a centralidade do dólar.
Dois fatores aceleraram esse processo: a ascensão econômica acelerada da China e da Índia — e a incapacidade dos EUA de responder com políticas públicas eficazes — e, em segundo lugar, a guerra na Ucrânia, que impulsionou os BRICS como alternativa estrutural ao sistema dolarizado. Wolff observa que, mesmo que o dólar continue relevante, sua preponderância está em declínio.
No que tange à Europa, o professor aponta para um momento de autossabotagem política e econômica: falta de coesão, dependência excessiva dos EUA, ausência de protagonismo tecnológico ou industrial e uma classe política frágil, presa a narrativas militares e sem visão estratégica independente. Para ele, o futuro passa pela unificação europeia e pela emancipação estratégica dos EUA — do contrário, é um fim de ciclo econômico e político que se avizinha.
Em resumo, Wolff oferece um diagnóstico contundente: os Estados Unidos enfrentam sinais claros de declínio, e a Europa, incapaz de se afirmar, caminha para uma irrelevância reforçada pela subordinação às narrativas e políticas norte‑americanas. A entrevista finaliza com um alerta sobre as consequências domésticas nos EUA — inflação e recessão iminentes, polarização política, e uma base eleitoral cada vez mais fragmentada.