Atitude Popular

“O mundo vai pedir para você desistir, mas você pode“

Em entrevista a Luiz Regadas, o radialista e pedagogo Domingos Sávio apresenta o livro Resgatando a Cidadania e defende inclusão com dignidade, políticas públicas e ação comunitária

No programa Café com Democracia, transmitido pela TV e Rádio Atitude Popular, Domingos Sávio, radialista, pedagogo, escritor e servidor público, apresentou o livro Resgatando a Cidadania, uma jornada de inclusão e comprometimento, e contou a trajetória que o levou do interior de Pernambuco ao microfone, da militância por direitos à educação popular. A conversa foi conduzida por Luiz Regadas, com participação ativa da audiência nas redes e nas rádios parceiras.

Logo no início, Sávio agradeceu o espaço e definiu a bússola do seu trabalho. “Eu queria que os nossos ouvintes e espectadores já guardasse três palavras, atitude, popular e democracia. Se essas palavras forem colocadas em prática, com certeza teremos dias melhores.” Ao longo da entrevista, ele reforçou que o livro nasce de uma experiência que cruza vida, rádio e políticas de inclusão, pensadas para transformar realidades locais.

O autor situou a gênese do projeto em 2018, a partir do evento Microfone Braile, que organiza há 14 anos. “Quem me acompanha nas minhas falas, seja no rádio, nas palestras, nas formações, sempre escutou eu falar que quem escreve um livro, faz uma composição, tem muita coragem, porque você vai expor aquilo que você pensa.” A obra foi escrita com o professor Thiago Queiroz, que trouxe uma narrativa mais didática e serena para temas que Sávio, pela vivência, reconhece que abordaria de modo mais ríspido. O pano de fundo é o rádio, como ferramenta de inclusão e de cidadania.

Sávio descreveu a própria trajetória de superação e organização comunitária. Aos 12 anos perdeu a visão, migrou para Recife aos 14 para estudar no Instituto de Cegos, fundou ainda na juventude um grêmio esportivo, ingressou no mercado de trabalho nos anos 1990 e consolidou a atuação pública. “Eu criei um programa de rádio em 2004 para falar sobre a política de inclusão. Criei esse evento chamado Microfone Braile, que homenageia em forma de agradecimento pessoas, entidades e serviços que fazem pela causa das pessoas com deficiência.” O rádio, explicou, é sua bandeira de luta porque mobiliza, acolhe e informa, com efeitos concretos. Ele relatou o caso de uma ouvinte que perdeu o marido e a visão na pandemia, entrou em depressão e retomou a rotina após escutar seu programa. “Hoje ela de testemunhal em várias palestras que foi o programa que resgatou ela da cama.”

Ao discutir inclusão, Sávio fez uma defesa enfática de políticas públicas, especialmente de cotas e da Lei Brasileira de Inclusão. “As cotas são um pequeno reparo, ainda muito pequeno, para a perversidade que foi feita com a sociedade brasileira.” Ele avaliou que governos progressistas construíram marcos importantes, mas cobrou que a prática alcance o cotidiano, com foco em trabalho, escola e autonomia. Também criticou o uso distorcido de benefícios assistenciais, quando acabam por tolher a perspectiva de estudo e inserção produtiva de pessoas com deficiência.

A entrevista deu espaço para orientação e mobilidade, campo em que sua esposa, Adriana Silva, é professora. Sávio desmistificou a ideia de que a perda da visão automaticamente amplia outros sentidos de modo espontâneo. “Os sentidos eles são trabalhados com técnicas para que a gente possa andar na rua.” A formação adequada, disse, vai do sentar ao caminhar na cidade, e cada trajetória é singular. “Nem todo cego vai ler o Braile, nem todo cego vai gostar de ouvir um aplicativo de voz no computador.”

A ética do seu projeto é motivacional e ao mesmo tempo concreta. “Não se desespere, procure os serviços. Se entrar em depressão, a família procure porque tem solução para você avançar e continuar.” A síntese que escolheu para sua jornada virou mensagem ao público. “O mundo vai pedir para você desistir o tempo todo dizer que você não pode, mas você pode e você não deve desistir.”

O livro, contou Sávio, é multimídia. “São três livros em um só, porque dentro do livro, na página 57, tem dois Qcodes que direciona para meu canal no YouTube, e você vai ouvir uma entrevista com o meu pai, seu Adélio Cipriano da Fonseca, e tem outra entrevista com a dona Eurides Muniza da Fonseca.” A obra está disponível em versão impressa, em plataforma digital e pode ser levada a bibliotecas e entidades, inclusive em Braile. “O meu objetivo não é ganhar dinheiro, é levar a mensagem, instigar as pessoas a entenderem que a vida é bela.”

Ao se despedir, ele voltou ao eixo que abriu a conversa e que dá título ao livro. “Nós precisamos nos abraçar, para apertar a mão e tomar café junto, porque é isso que a sociedade precisa.” No estúdio, Luiz Regadas sublinhou o papel do Café com Democracia e da rede de rádios comunitárias na construção de uma esfera pública que enxerga para além dos olhos e que transforma dor em política e pertencimento.


📺 Programa Café com Democracia
📅 De segunda à sexta
🕙 Das 7h30 às 8h
📺 Ao vivo em: https://www.youtube.com/TVAtitudePopular
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