Atitude Popular

Petrobras injeta R$ 33 bilhões no refino fluminense. 

Investimento histórico reacende debate sobre soberania energética

Da Redação

Anúncio de Lula e Magda Chambriard reforça protagonismo do Rio na cadeia do petróleo, mas especialistas alertam: o futuro da infraestrutura brasileira corre risco diante de projetos políticos entreguistas.

O Rio de Janeiro voltará a ocupar o centro do tabuleiro energético nacional com o megainvestimento de R$ 33 bilhões anunciado pela Petrobras nesta sexta-feira (4). O plano, revelado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela presidente da estatal, Magda Chambriard, prevê a modernização e ampliação das refinarias fluminenses, especialmente o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), além de melhorias operacionais em unidades já existentes. Trata-se de um aporte robusto, que visa não apenas aumentar a capacidade de refino, mas também ampliar a produção de combustíveis menos poluentes e estimular a indústria de bens e serviços locais.

A decisão coroa a estratégia de recuperação da capacidade de refino da Petrobras, fragilizada nos últimos anos com a política de desinvestimentos e venda de ativos adotada durante governos anteriores. Ao priorizar a retomada da engenharia nacional e da autonomia produtiva, o governo Lula busca garantir que o Brasil não seja refém de importações de combustíveis, como ocorreu de forma dramática durante a crise de 2021, quando o preço internacional do diesel e da gasolina explodiu e penalizou duramente consumidores e transportadores.

Segundo Magda Chambriard, a modernização das refinarias será essencial para atender a futura demanda do mercado interno e reduzir gargalos logísticos. “Este investimento assegura empregos, fomenta a economia local e, sobretudo, preserva a soberania energética do país”, frisou. Lula, por sua vez, aproveitou a cerimônia para defender o papel estratégico da Petrobras como indutora do desenvolvimento nacional. “Eles tentaram destruir a Petrobras, mas nós estamos provando que ela pertence ao povo brasileiro”, declarou o presidente, em referência às privatizações e leilões de ativos que marcaram as gestões Michel Temer e Jair Bolsonaro.

O anúncio gerou aplausos de prefeitos, trabalhadores e movimentos sociais do Rio de Janeiro, que historicamente dependem da cadeia do petróleo e gás como motor da economia regional. Além de modernizar as plantas de refino, a Petrobras também sinalizou investimentos em projetos de pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis, apontando para uma transição energética que combine responsabilidade ambiental e manutenção de empregos qualificados.

No entanto, especialistas do setor alertam que a magnitude desses investimentos exige proteção política para não ser capturada novamente por interesses privados ou estrangeiros. “O Brasil tem uma capacidade de engenharia invejável, mas não pode repetir o erro de transferir ativos estratégicos para mãos externas”, comentou um engenheiro do setor de refino, que preferiu não ser identificado.

Esse temor não é infundado: nos últimos dez anos, a política de privatizações esvaziou o parque de refino brasileiro, obrigando o país a importar derivados de petróleo em larga escala. Com isso, aumentou a vulnerabilidade externa e a dependência do dólar, cenário que se refletiu na inflação e no custo de vida da população.

Diante dos investimentos anunciados, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) comemorou, mas também cobrou atenção constante. “Se houver mudança de governo, especialmente com grupos que defendem a entrega do patrimônio nacional, este plano de modernização pode ser interrompido ou repassado a multinacionais. Isso é inaceitável”, avaliou a entidade em nota pública.

As obras devem começar ainda em 2025, com previsão de gerar cerca de 30 mil empregos diretos e indiretos, movimentando cadeias produtivas que vão da metalurgia à logística de transportes. O objetivo, segundo a Petrobras, é concluir a maior parte das reformas até 2028, para garantir um parque de refino renovado e competitivo.

Para os trabalhadores e comunidades do entorno, o anúncio reacende esperanças de desenvolvimento social e econômico no médio prazo. O setor de petróleo e gás, historicamente, tem papel decisivo no PIB do Rio de Janeiro e ajuda a sustentar milhares de pequenas e médias empresas de serviços.

Inspirada no artigo “A soberania vendida em lotes” (Outras Palavras), a discussão sobre o megainvestimento da Petrobras no Rio de Janeiro precisa ir além dos números e do impacto imediato. Há uma questão central de soberania: infraestrutura estratégica como refinarias, oleodutos e centros de distribuição não podem depender da volatilidade eleitoral brasileira.

O texto de Outras Palavras aponta que a entrega paulatina de ativos nacionais nos últimos anos foi justificada por discursos de “eficiência” e “modernização”, mas, na prática, resultou em maior dependência de importações e na submissão ao mercado financeiro global. O mesmo risco ronda os R$ 33 bilhões anunciados agora: se não houver continuidade de um projeto de país soberano, tais investimentos poderão ser capturados por interesses estrangeiros caso um governo entreguista — que priorize privatizações — retome o poder.

Em outras palavras, a soberania energética brasileira ainda está em disputa. Não basta injetar bilhões em refinarias se, politicamente, não houver blindagem contra uma guinada ultraliberal que, no limite, pode fatiar novamente a Petrobras e leiloar suas plantas para grandes petroleiras multinacionais. A experiência recente da venda de refinarias no Nordeste e no Sul serve de alerta para não repetir erros.

É fundamental, portanto, enxergar o investimento no Rio não como um fim em si mesmo, mas como parte de um projeto nacional de longo prazo, que se mantenha vivo independentemente de conjunturas eleitorais. Se a disputa política em 2026 resultar em vitória de grupos neofascistas — que já demonstraram afinidade com o desmonte do patrimônio público —, o risco de ver esses R$ 33 bilhões entregues “em lotes” ao capital estrangeiro é altíssimo.

Portanto, a sociedade civil, sindicatos, movimentos populares e a própria opinião pública precisam permanecer vigilantes. Defender o investimento, sim — mas, sobretudo, defender o Brasil de uma nova onda de privatizações que pode transformar a reconstrução de hoje em mais um capítulo de saque do patrimônio nacional amanhã.