Da Redação
Em entrevista aos meios conservadores, Donald Trump qualificou Benjamin Netanyahu como “herói de guerra” e afirmou ser “herói também”, enquanto o premiê israelense sofre acusações por crimes de guerra e protagoniza uma política expansionista e violenta que vindica o intervencionismo.
Em entrevista recente, o ex-presidente Donald Trump prestou uma homenagem incomum a Benjamin Netanyahu, descrevendo-o como “herói de guerra” e, em seguida, colocando-se na mesma categoria ao se declarar também um “herói” por suas supostas contribuições em operações militares contra o Irã e no resgate de reféns após os ataques de outubro de 2023.
A declaração, porém, carrega um peso de contradições. Trump jamais esteve em combate real, sendo conhecido por ter evitado o serviço militar, e suas afirmações sobre ter “encerrado seis guerras” não resistem à análise factual: os conflitos continuam, acordos firmados foram frágeis e sua atuação diplomática foi, no máximo, parcial. A autoproclamação de heroísmo soa mais como construção de narrativa do que como reconhecimento legítimo.
Ao exaltar Netanyahu, Trump desconsidera as acusações formais contra o premiê israelense no Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra em Gaza. Netanyahu tem conduzido uma política agressiva, marcada por bombardeios maciços, destruição de infraestrutura civil e milhares de mortes de inocentes. Aplaudi-lo como “guerreiro” é ignorar a dimensão humanitária da tragédia que ele próprio desencadeia.
Nos bastidores, inclusive, autoridades americanas do próprio governo Trump já classificaram Netanyahu como um “maníaco impulsivo” pela escalada de ataques no Oriente Médio que frequentemente atrapalharam tentativas de estabilização diplomática. Ainda assim, Trump insiste em romantizar sua figura e associar-se a ela, numa simbiose política que reforça a retórica da força e da violência como instrumentos legítimos de poder.
Essa construção de heróis artificiais não apenas banaliza o verdadeiro sacrifício de veteranos que enfrentaram guerras reais, mas também legitima lideranças que agem à margem do direito internacional. Trump, ao vangloriar operações militares e minimizar violações de direitos humanos, apresenta uma visão distorcida da política externa: uma encenação em que a brutalidade é travestida de glória.
O mais preocupante é o caráter sistêmico dessa aliança. Tanto Trump quanto Netanyahu representam a convergência entre autoritarismo e belicismo. Enquanto um tenta reescrever sua imagem política como estadista “pacificador”, o outro expande assentamentos, rejeita acordos de cessar-fogo e concentra poderes internos para sustentar sua posição de liderança. Juntos, alimentam um ciclo de deslegitimação da diplomacia internacional, da justiça e da convivência pacífica.
Para analistas, a retórica que une Trump e Netanyahu é perigosa porque normaliza a guerra como ferramenta política, enfraquece normas internacionais e dá fôlego a projetos autoritários. O resultado é um mundo mais instável, onde interesses pessoais e narrativas distorcidas se sobrepõem à vida humana e à paz global.