Atitude Popular

BRICS no Rio

Encontro decisivo do Sul Global reafirma protagonismo brasileiro

Da Redação

No Museu de Arte Moderna, líderes emergentes debatem cooperação multipolar, economia verde e inovação tecnológica com realismo e propósito

Neste domingo, 6 de julho de 2025, o Rio de Janeiro assume a cena diplomática global ao sediar a 17ª Cúpula de líderes do BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — além de seus seis membros ampliados: Egito, Etiópia, Indonésia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. O presidente Lula recebe representantes de onze países, além de convidados, num encontro que se estende até segunda-feira, 7 de julho, no Museu de Arte Moderna, de frente para a Baía de Guanabara.

Agenda sólida, sem retórica inflamada

O programa oficial da cúpula inclui sessões plenárias sobre paz, segurança e reforma da governança global, além de debates sobre multilateralismo, finanças, inteligência artificial, meio ambiente e saúde. A prioridade é exercitar uma pauta consensual, com foco em desenvolvimento sustentável, transição energética, cooperação tecnológica e alternativas ao domínio absoluto do dólar — mas sem alimentar antagonismos diretos contra os Estados Unidos ou outras potências.

Presença e ausências de peso

Nem todos os chefes de Estado compareceram presencialmente. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, participam em pessoa, enquanto Vladimir Putin acompanha por videoconferência. Xi Jinping enviou o premier Li Qiang como representante. Irã, Egito e Emirados Árabes também não trouxeram seus presidentes, mas marcaram presença por meio de delegações diplomáticas. Ainda assim, o encontro reúne lideranças que respondem por quase metade da população mundial e cerca de 40% do PIB global ajustado por paridade de poder de compra.

Logística e segurança em escala

Para garantir a segurança de chefes de Estado, ministros, delegações e cerca de 3 mil jornalistas credenciados, o governo federal mobilizou um grande esquema envolvendo Polícia Federal, Gabinete de Segurança Institucional e Forças Armadas, além da Guarda Municipal e da Polícia Civil do Rio. Houve fechamento parcial de vias, esquema especial no aeroporto e pontos facultativos decretados para reduzir a movimentação no entorno do MAM e de hotéis oficiais. O objetivo central é garantir não apenas a proteção das autoridades, mas também o direito de manifestação pacífica de movimentos sociais.

Impactos econômicos e projeção internacional

A realização da cúpula deve injetar mais de R$ 200 milhões na economia carioca, segundo estimativas do setor turístico, com ocupação máxima em hotéis, aumento de demanda no transporte e alta na rede de serviços. A visibilidade do Rio de Janeiro como sede diplomática e cultural se amplia, ajudando a projetar o Brasil como ator confiável na articulação do Sul Global. Para o setor produtivo brasileiro, a cúpula também abre portas para ampliar exportações, acordos de inovação tecnológica e investimentos em infraestrutura verde e inteligência artificial.

Foros paralelos e participação social

Nos dias que antecederam a cúpula oficial, entre 4 e 5 de julho, ocorreram fóruns empresariais, seminários de juventude, debates sobre mulheres na economia, e encontros de startups, principalmente na região portuária e em Copacabana. Durante os dois dias de plenária, o Fórum de Jovens Líderes e painéis paralelos com organizações sociais, acadêmicos e movimentos ambientalistas continuam discutindo temas como justiça climática, transição energética, combate à fome e enfrentamento da desinformação.

Diplomacia cautelosa em cenário global tenso

Apesar da força do BRICS — quase metade da população mundial e enorme peso econômico — a cúpula acontece sob tensões globais: a guerra na Ucrânia, conflitos no Oriente Médio, disputas entre regimes democráticos e autocráticos, e pressões externas quanto ao uso do dólar seguem dividindo posições. Ainda assim, diplomatas brasileiros atuam para articular uma declaração final conjunta que defenda reformas na ONU, mais equilíbrio no sistema financeiro internacional e posições prudentes sobre conflitos regionais.

Brasil no centro — com realismo

Lula tenta imprimir ao encontro um tom construtivo e pragmático: valorizar ganhos concretos para a governança global, incentivar projetos de sustentabilidade e reafirmar a multipolaridade sem alimentar discursos radicais ou divisionistas. A presença do secretário-geral da ONU, António Guterres, reforça essa linha, sinalizando sintonia entre as demandas do BRICS e as reformas que vêm sendo discutidas no sistema multilateral.

Desafios e balanço esperados

A expectativa é que a cúpula avance em propostas objetivas, como acordos de financiamento climático via Novo Banco de Desenvolvimento, estímulos ao comércio em moedas locais, regras comuns para inteligência artificial e compromisso renovado com a democratização das instâncias multilaterais. Mesmo sem grandes anúncios imediatos, reunir chefes de Estado de quase metade da humanidade no Rio já representa, por si só, um marco para o protagonismo brasileiro e para o fortalecimento do Sul Global.

DiaHorárioEvento
6/709h30Recepção oficial no Museu de Arte Moderna
10h30Fotografia oficial
10h50Plenária: Paz, Segurança e Governança
12h35Almoço de trabalho
16h00Plenária: Finanças, IA e Multilateralismo
20h00Jantar oficial com Lula e Janja
7/708h45Foto oficial com membros e parceiros
09h00Plenária: Meio Ambiente, COP30 e Saúde