Atitude Popular

Rádios comunitárias retomam protagonismo no Ceará

Sobral sedia primeiro grande encontro de mobilização e resistência

Da Redação

Encontro busca fortalecer emissoras populares, pressionar por políticas públicas e reativar a Abraço Ceará, reanimando a luta histórica da comunicação comunitária no estado

Em um movimento de resistência e reconstrução da radiodifusão popular, a Abraço Brasil — Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária — em parceria com a ACERTCOM, deu início ao 1º Encontro de Rádios Comunitárias da Região de Sobral, da Serra de Ibiapaba e do Litoral Norte e Oeste do Ceará, realizado nesta quinta-feira (04) na cidade de Sobral. O evento marca o primeiro passo de uma série de atividades voltadas ao fortalecimento do movimento de rádios comunitárias no estado e à reativação da Abraço Ceará, entidade que historicamente representa o setor.

A programação, segundo a organização, não para por aí. Após o encontro em Sobral, será promovida uma Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Ceará, em Fortaleza, para debater a situação das rádios comunitárias no estado. Outros eventos previstos incluem o 1º Encontro de Rádios Comunitárias da Região Central do Ceará em Quixeramobim, e o 1º Encontro das Rádios Comunitárias do Sertão do Cariri, que acontecerá em Juazeiro do Norte. A jornada de mobilização culminará no Congresso da Abraço Ceará, também em Fortaleza, que buscará reorganizar o movimento e consolidar as pautas de luta do segmento.

Para Geremias dos Santos, presidente da Abraço Brasil, este primeiro encontro em Sobral cumpre um papel estratégico ao mobilizar dirigentes de rádios comunitárias, chamando-os à participação ativa na luta por demandas históricas — tanto no âmbito estadual quanto no plano nacional. Entre as principais bandeiras está a pressão por mudanças na Lei 9.612/98, que regula o serviço de radiodifusão comunitária, e no Decreto 2.615/98, considerados defasados e restritivos para o funcionamento democrático dessas emissoras.

Outro ponto central da mobilização envolve a disputa por acesso à verba pública de mídia do governo estadual, gerida pela SECOM (Secretaria de Comunicação). Segundo Geremias dos Santos, não faz sentido que um estado governado por forças de esquerda deixe de implementar políticas de fomento à comunicação comunitária para as 252 rádios comunitárias autorizadas pelo Ministério das Comunicações, distribuídas em 189 municípios cearenses.

“Como um estado governado por um partido de esquerda não tem políticas para as 252 emissoras autorizadas pelo Ministério das Comunicações em 189 municípios?”, questionou o dirigente da Abraço Brasil, apontando a urgência de reverter esse cenário.

O dirigente também destacou que o movimento de rádios comunitárias no Ceará foi historicamente um dos mais fortes do país e precisa ser reanimado neste momento, como forma de garantir a democratização do acesso à comunicação, fortalecer o papel social das emissoras comunitárias e garantir espaço para as vozes populares e periféricas — constantemente silenciadas pelos grandes conglomerados de mídia comercial.

Além de reforçar as pautas políticas, a série de encontros pretende articular as rádios para ações de formação, capacitação técnica e articulação regional, estimulando uma rede colaborativa que valorize a cultura local e amplie o acesso à informação pública e cidadã.

O Congresso da Abraço Ceará, previsto para os próximos meses em Fortaleza, fechará esse ciclo de reorganização, apontando caminhos para a construção de uma comunicação comunitária mais forte, plural e efetivamente democrática.

O processo de rearticulação das rádios comunitárias no Ceará se insere em um contexto nacional de disputa por políticas de comunicação mais justas, numa conjuntura marcada pela crescente concentração midiática e pelo avanço de discursos autoritários. Retomar a potência do movimento comunitário, segundo a Abraço Brasil, é também reafirmar o direito do povo à comunicação e à pluralidade de vozes no rádio brasileiro.

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