Por Sara Goes
“Enfraquecido politicamente, impopular e com saúde frágil, Lula tentará reeleição?”
A manchete de O Povo não é travestida de jornalismo, é jornalismo mesmo, mas daquele com lado declarado, contra o povo. A escolha das palavras não é inocente: “enfraquecido”, “impopular”, “saúde frágil”. Três termos cuidadosamente selecionados para pintar a imagem de um presidente derrotado, isolado e incapaz, mesmo quando os fatos dizem o contrário.
Não se trata de análise, nem de crítica legítima, é torcida. Lula governa um país que voltou a crescer, com inflação controlada, aumento real do salário mínimo, recordes de geração de empregos formais e protagonismo internacional restaurado. Pode-se discordar de sua condução política, pode-se cobrar mais audácia, mas dizer que ele está “impopular” é tentar fabricar uma percepção, não descrever a realidade.
A “fragilidade” que tentam colar em Lula não é física, é simbólica. É a tentativa de minar sua autoridade política aos olhos do povo. Só que há um detalhe: esse povo, que dá nome ao jornal, não é o destinatário da publicação. O Povo, nesse caso, é ironia cruel, porque o jornal serve exatamente aos interesses de quem teme o povo organizado, comendo melhor, decidindo mais, pensando com autonomia.
Lula não governa sozinho, governa com uma base que resiste, que lembra, que se movimenta. A extrema direita sabe disso, a imprensa oligárquica também. E é por isso que já começaram, desde agora, a operar o medo, medo da volta de Lula em 2026, medo do Brasil que não aceita mais ser mandado calado.
Lula tem 79 anos, e essa é precisamente uma das razões pelas quais sua presença política incomoda tanto. Não pela idade em si, mas porque, aos 79, ele continua sendo a figura mais capaz de mobilizar massas, articular alianças e desestabilizar os donos da narrativa. Em um país onde os octogenários das elites são tratados como oráculos e “conselheiros da República”, a vitalidade política de um operário nordestino velho é vista como uma anomalia que precisa ser deslegitimada.
A idade de Lula só vira problema porque ele continua vencendo. O problema, para O Povo e outros da mesma cepa, não é o cansaço do corpo, é a força do símbolo. Lula velho é Lula incontrolável. Lula velho é Lula imune à chantagem. Lula velho é Lula dizendo que, se estiver de pé, vai impedir que a extrema direita destrua o país de novo.
A questão de fundo não é a longevidade, mas o que Lula representa mesmo agora, o veto popular ao autoritarismo, ao entreguismo e ao moralismo de conveniência. Aos 79 anos, ele continua sendo a barreira mais eficaz contra o projeto reacionário no Brasil. E isso, para essa imprensa que se chama O Povo mas serve aos de cima, é inaceitável.