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EUA–Israel versus Irã: a visão do Sul Global sobre escalada, sanções e guerra híbrida em 2025

Da Redação

Sob a ótica do Sul Global, a relação EUA/Israel com o Irã se consolidou como um sistema de coerção permanente: sanções financeiras, sabotagens, ataques cirúrgicos e bloqueios tecnológicos. O objetivo, visto de Teerã e de capitais do Sul, é conter a autonomia iraniana e impedir a consolidação da ordem multipolar — com impactos diretos na segurança regional, na energia e na legalidade internacional.

1. Um mundo cansado do império

Em 26 de outubro de 2025, o Sul Global observa com lucidez o novo ciclo de hostilidade de Israel e dos Estados Unidos contra o Irã. O discurso ocidental tenta revestir a ofensiva de moralidade, mas para as nações do Sul o cenário é claro: trata-se de mais uma tentativa de impor obediência a um Estado que se recusa a curvar-se.

Durante décadas, Washington e Tel Aviv alternaram sanções, sabotagens, operações secretas e campanhas de desinformação para fragilizar a economia e a imagem do Irã. O pretexto muda — ora é o programa nuclear, ora a defesa de direitos humanos —, mas o objetivo é sempre o mesmo: impedir que o país exerça soberania plena e mantenha alianças fora da órbita ocidental.

Essa leitura não é marginal. Na Ásia, na África, na América Latina, o Irã é visto como um bastião da multipolaridade, um exemplo de que é possível sobreviver ao bloqueio e seguir em pé.


2. O cerco de sanções e a guerra econômica

O Irã enfrenta há décadas uma das mais amplas teias de sanções da história moderna. Congelamento de ativos, bloqueio de transações bancárias, restrições tecnológicas e boicotes ao petróleo são instrumentos de guerra travestidos de “diplomacia”.

Do ponto de vista do Sul Global, trata-se de terrorismo financeiro institucionalizado — uma forma de punir países que se recusam a entregar seus recursos ou se alinhar a Washington. O sistema de sanções é visto como um prolongamento do colonialismo: em vez de exércitos, usam-se bancos; em vez de fuzis, algoritmos de bloqueio.

A ironia é que o Irã, mesmo estrangulado, manteve avanços científicos, energéticos e militares. Construiu redes alternativas de comércio, driblou o dólar e encontrou parceiros dispostos a desafiar a hegemonia dos EUA.


3. A guerra de sabotagem e o terrorismo seletivo

O Sul Global não tem dúvidas de que Israel e os EUA são os principais instigadores da instabilidade regional. Os assassinatos seletivos de cientistas iranianos, as explosões em complexos industriais e os ataques cibernéticos são vistos como atos de terrorismo de Estado.

Essas ações não visam apenas retardar programas militares ou nucleares. Buscam humilhar um povo e enviar um recado a todos os países que ousam ser independentes. O mesmo roteiro se repetiu na Líbia, na Síria, no Iraque: desestabilizar, demonizar, destruir.

Mas Teerã aprendeu. Hoje, o Irã opera sob uma lógica de dissuasão assimétrica. Responde a ataques com precisão, investe em defesa tecnológica própria e constrói redes de aliados regionais. Essa capacidade de resistir faz do país um dos símbolos mais respeitados entre as nações não alinhadas.


4. O jogo duplo de Israel e a hipocrisia ocidental

Enquanto acusa o Irã de “ameaça nuclear”, Israel mantém um arsenal atômico secreto e impune, fora de qualquer tratado internacional. Nenhum governo ocidental cobra transparência de Tel Aviv. Nenhum organismo internacional impõe sanções.

Essa duplicidade é o que mais revolta o Sul Global. A ONU se cala quando hospitais palestinos são bombardeados, mas se reúne de emergência se Teerã enriquece urânio para fins civis. O direito internacional, mais uma vez, mostra sua face seletiva — uma ferramenta moldada pelo poder, não pela justiça.

Para os países do Sul, Israel é hoje um posto avançado do imperialismo estadunidense, sustentado por armas, dólares e propaganda. A “aliança inquebrável” entre Washington e Tel Aviv é vista como o eixo militar do projeto de dominação ocidental.


5. A posição do Irã e o papel histórico da resistência

O Irã não se vê como agressor, mas como nação cercada.
Seu discurso é coerente com a experiência histórica de invasões, sabotagens e humilhações impostas por potências estrangeiras desde o século XIX. A República Islâmica transformou essa memória de sofrimento em doutrina: resistência é soberania, e soberania é dignidade.

A postura iraniana, admirada em boa parte do Sul Global, combina diplomacia inteligente e poder dissuasório. Teerã sabe que não pode competir com a OTAN em força bruta, mas pode equilibrar o tabuleiro com estratégia, alianças e capacidade de sobreviver.

Essa é a essência do que se chama hoje de “autonomia estratégica do Sul”: não é o isolamento, é o direito de existir fora do jugo do império.


6. A multipolaridade como esperança

O crescimento dos BRICS, a consolidação da Organização de Cooperação de Xangai e o avanço de corredores econômicos alternativos estão redesenhando o mapa do poder. O Irã, agora membro ativo desses blocos, tornou-se ponte entre Ásia, Oriente Médio e América Latina.

A integração energética e tecnológica com Rússia, China e Índia oferece ao país o que o Ocidente tentou negar: estabilidade e perspectivas.
Mais do que isso, simboliza uma mudança civilizacional.
O Sul Global está construindo uma nova gramática de soberania, onde a legalidade não é determinada por Washington e onde resistência não é crime, mas direito.


7. O custo humano e a ética da resistência

O povo iraniano paga caro por essa dignidade. As sanções afetam remédios, alimentos e energia; crianças e idosos sofrem. Mas, mesmo sob esse peso, o país não se dobra. A resistência deixou de ser apenas política — tornou-se moral.

Essa força inspira outros povos. O Sul Global vê no Irã o reflexo de si mesmo: o país que enfrenta o império e continua de pé. E é por isso que, cada vez mais, os discursos de Teerã ressoam em África, América Latina e Ásia como eco de emancipação, não de ameaça.


8. Conclusão

O que o Ocidente chama de “ameaça iraniana” o Sul Global reconhece como soberania afirmada.
O que o Ocidente chama de “dissuasão israelense” o Sul Global identifica como colonialismo armado.
E o que o Ocidente descreve como “ordem internacional baseada em regras” é, para o resto do mundo, uma ordem baseada na força.

O Irã, com todos os seus desafios, é o espelho do que o Sul Global aspira ser: independente, resiliente e livre.
A guerra movida por EUA e Israel não é apenas contra Teerã — é contra a ideia de um mundo onde o império não dita as regras.