Atitude Popular

Veto ao IOF escancara ofensiva coordenada contra o governo

Por Reynaldo Aragon 

A derrubada do decreto presidencial que aumentava o IOF revela mais do que uma derrota pontual: é sintoma de uma guerra híbrida em pleno curso, com o Legislativo operando em consonância com interesses de mercado, agronegócio, big techs e forças ultraconservadoras. O governo Lula está sitiado em múltiplas frentes.

O veto da Câmara dos Deputados ao decreto presidencial que elevava as alíquotas do IOF sobre operações de crédito é mais do que um tropeço fiscal do governo. Trata-se de um movimento estratégico em uma guerra de desgaste contínuo. A derrubada da medida, aprovada por 383 votos, expôs com brutalidade a infidelidade da base governista e o grau de isolamento do Planalto diante de uma engrenagem poderosa, composta por diversas frentes organizadas que atuam de forma articulada: congresso, mercado financeiro, grande mídia, setor agroexportador, igrejas evangélicas e as big techs.

O próprio presidente Lula, em declaração posterior à derrota, afirmou que “a busca é por justiça fiscal”, tentando reafirmar o compromisso do governo com equilíbrio e responsabilidade. No entanto, o placar da votação evidenciou que o embate ultrapassa a discussão técnica. É, na essência, um confronto político-ideológico, parte de um cenário que se assemelha cada vez mais a uma guerra híbrida institucionalizada, na qual as armas são narrativas, sabotagens legislativas e pressão midiática constante.

O IOF, imposto comumente utilizado como instrumento de política fiscal e monetária, foi alvo fácil da coalizão oposicionista. Ao vender a narrativa de que o aumento do imposto penalizaria a classe média e os pequenos negócios, setores conservadores do Congresso conseguiram mobilizar votos até mesmo entre partidos da base. O resultado não foi apenas a derrubada do decreto, mas uma demonstração de força simbólica: o Congresso mostrando ao Executivo que tem o poder de travar, desmontar ou desmoralizar qualquer iniciativa que afete os interesses do capital rentista.

Mais que isso, a ação da Câmara revelou a erosão do pacto político mínimo que sustentava o governo, mesmo após quase um ano e meio de mandato. A vitória da oposição ocorreu em meio a um ambiente inflamado por pressões de bancos, especuladores e setores que se beneficiam do descontrole fiscal — os mesmos que combatem qualquer tentativa de redistribuição ou taxação progressiva.

Essa ofensiva legislativa se soma a uma série de movimentos articulados nos últimos meses:

– A resistência à regulação das plataformas digitais, patrocinada pelas big techs e amplificada por grupos de extrema-direita.

– A sabotagem de políticas ambientais e a conivência do Congresso com desmatadores e grileiros, capitaneada pela bancada do agro.

– A blindagem de parlamentares ligados a escândalos de corrupção, garantindo a impunidade de figuras-chave do bolsonarismo.

– A manipulação midiática, que transforma qualquer ajuste fiscal necessário em “estelionato eleitoral”, alimentando a narrativa de um governo fraco e incompetente.

– O crescimento do poder político das igrejas neopentecostais, que pautam temas morais e mobilizam massas contra qualquer agenda progressista.

O veto ao IOF, nesse contexto, é apenas mais um capítulo da desestabilização permanente a que o governo está submetido. A estratégia é clara: criar um ambiente de crise constante, desacreditar as instituições progressistas, travar as engrenagens do Estado e preparar o terreno para uma retomada autoritária em 2026. A guerra híbrida não se dá apenas nas redes ou nos quartéis. Ela acontece no voto do parlamento, no editorial dos jornais, nos algoritmos das plataformas, nos púlpitos das igrejas e nos gabinetes dos lobbies empresariais.

A guerra híbrida que o Brasil enfrenta é contínua e assimétrica. Diferente de um conflito tradicional, não há um campo de batalha definido nem um momento exato de ruptura. Trata-se de um processo permanente de corrosão da soberania, da estabilidade institucional e da capacidade do Estado de agir. O veto ao IOF é, portanto, um alerta: o inimigo é difuso, mas age com coordenação cirúrgica.

Se o governo não construir uma estratégia robusta de enfrentamento — que inclua comunicação popular eficaz, mobilização de base, articulação internacional e reconstrução do pacto institucional com setores democráticos —, o cerco vai se fechar ainda mais. E os próximos vetos, derrotas e humilhações parlamentares serão apenas parte de uma espiral que pode, mais uma vez, empurrar o Brasil para o abismo da instabilidade e da ruptura democrática.

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