Atitude Popular

Zohran Mamdani vence em Nova York e inaugura nova era na cidade

Da Redação

Com menos de 35 anos, Zohran Mamdani, membro da Assembleia de Nova York e ativista de base, foi eleito prefeito de Nova York em 4 de novembro de 2025 — tornando-se o primeiro muçulmano, a primeira pessoa de origem sul-asiática e o mais jovem prefeito da cidade em mais de um século.

Na noite de 4 de novembro de 2025, a cidade de Nova York viveu um momento histórico. Após uma campanha vigorosa e uma coalizão de base que mobilizou milhares de voluntários e pequenas doações, Zohran Mamdani garantiu uma vitória expressiva ao superar mais de 50 % dos votos, derrotando o ex-governador Andrew Cuomo e o republicano Curtis Sliwa. Sua eleição representa um marco simbólico — primeiro prefeito muçulmano da maior cidade dos EUA, primeiro de origem sul-asiática e o mais jovem em mais de cem anos.

A vitória de Mamdani reflete, em grande medida, uma mudança de época. Eleito pelas ruas de Queens e Brooklyn, com apoio forte de jovens, imigrantes e comunidades racializadas, ele capturou o sentimento de uma cidade que, sob o peso do custo de vida, da desigualdade e da crise da habitação, buscava renovação. Sua plataforma, com propostas como transporte público gratuito, congelamento de aluguéis para unidades estabilizadas, salário mínimo de 30 dólares/hora e aumento de impostos para quem ganha mais de 1 milhão de dólares, ressoou em uma população cansada de promessas vazias.

Mamdani entrou na disputa não como favorito tradicional, mas como força disruptiva. No início da campanha, era praticamente desconhecido para a maioria dos nova-iorquinos; mas, à medida que cresceu sua presença digital, mobilizou um exército de voluntários e articulou alianças com movimentos comunitários, ele impôs um novo ritmo à eleição. Seu slogan — “Nova York para a maioria” — captou o sentimento de uma parte considerável da cidade que se sentia esquecida.

Sua vitória não foi apenas numérica: foi simbólica. A cidade que durante anos se viu governada por elites afluentes, por fórmulas políticas já desgastadas e por promessas não cumpridas, escolheu alguém que se definiu como “socialista democrático”, nascido em Uganda, criado nos EUA, e comprometido com a justiça económica e social. Ele prometeu que Nova York deixará de ser “um playground para bilionários” e passará a ser “uma casa para todos”.

Mas enquanto o entusiasmo ecoa, os desafios que se avizinham são monumentais. A habitação na cidade está em crise, com aluguéis vertiginosos e milhares de pessoas em situação de rua. O transporte público clama por investimentos, a desigualdade racial permanece marcada e a segurança pública requer equilíbrio entre reforma policial e combate real ao crime. Mamdani assume em 1º de janeiro de 2026 e terá de converter entusiasmo em resultados concretos.

A vitória de Mamdani também tem repercussões nacionais e internacionais. Em nível nacional, surge como um reflexo da fragmentação do “centro-establishment” e da ascensão de políticas progressistas. Ele enviou uma mensagem clara aos poderes em Washington: a renovação política não é mais possível apenas nas margens — pode alcançar o centro, a grande metrópole, o símbolo do capitalismo global. Em termos internacionais, Nova York assume nova face sob sua liderança: mais diversa, mais inclusiva, mais voltada para justiça social — o que pode reverberar para além dos EUA.

Do ponto de vista estratégico, esta eleição tem implicações para a democracia, para a mobilização popular e para o futuro da esquerda urbana. Mamdani construiu sua vitória sobre três vetores principais:

  • A mobilização de jovens e imigrantes que até então estavam excluídos das disputas de poder.
  • A articulação de uma agenda urbana radical de habitação, transporte e salário mínimo, que rompeu com o discurso tradicional da cidade de “primeiro o mercado”.
  • A utilização de redes digitais, micro-doações e um método de campanha centrado em ativismo comunitário, não em grandes doações de grandes corporações.

O contraste entre o novo prefeito e seus adversários foi nítido. Andrew Cuomo, embora tenha sido governador e possuía nome familiar, foi visto como representante de uma política do passado — marcada por escândalos, desgaste e desconexão com a realidade das ruas. Curtis Sliwa e os republicanos, por sua vez, perderam relevância em uma cidade profundamente azul, mas também em transformação. Mamdani venceu não apenas os adversários, mas a própria lógica de que “não há alternativa real” nas metrópoles.

Para o Sul Global, sua vitória serve como inspiração: uma cidade-síntese da globalização, da migração e da desigualdade escolheu um dos seus próprios — alguém que não vem das “famílias poderosas”, mas das comunidades — para governar. É uma prova de que a mudança estrutural pode emergir no coração do sistema, e que as cidades-centro do capitalismo não são imunes à contestação.

Em resumo, a eleição de Zohran Mamdani marca o início de uma nova era para Nova York — e talvez para a política urbana global. A metrópole volta a apostar no “nosso” antes do “meu”: nas pessoas comuns, nas ruas, na comunidade. Agora, o verdadeiro teste começa. Se Mamdani conseguir transformar seus discursos em realização, ele não apenas governará Nova York — ele mudará o que significa governar uma metrópole no século XXI.